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Resiliência na prática

É incrível observar a magnífica habilidade que muitas pessoas têm de se adaptar, sempre que necessário, a situações desconfortáveis, criando estruturas mentais de resistência ao sofrimento que permitem permanecer saudáveis, física e psicologicamente falando, mesmo que expostas a adversidades das mais severas possíveis.

A palavra “resiliência” é bastante utilizada, de algumas décadas para cá, na caracterização dessa capacidade de “continuar em frente”, apesar dos pesares. De acordo com a literatura brasileira, o termo “resiliência” se origina na física e, etimologicamente, transmite uma ideia de retorno ao que se era. Mais precisamente, diz respeito a “saltar para trás”, “voltar saltando”. Assim sendo, dizer que uma pessoa é resiliente é o mesmo que afirmar que tal indivíduo possui a competência de se reestruturar, psicologicamente, depois de vivenciar situações de intenso sofrimento.

Pensando nisso, e nos dias de pandemia em que estamos atravessando, resolvi trazer uma reflexão sobre o assunto, a fim de proporcionar um momento de esperança aos leitores do Evidenciador. Para tanto, convido-te a ler este texto até o final.

Tudo mudou tão de pressa, não é mesmo? Quanta coisa aconteceu (e continua acontecendo) que não esperávamos? Sequer imaginávamos! De repente, soubemos de um vírus que estava aterrorizando um país do outro lado do mundo e, apesar de nos compadecermos dos chineses, era na China, então, tudo bem! Em seguida, soubemos que o vírus estava se espalhando para além daquele país, mas, ainda assim, estava longe, portanto, que alívio! Quando menos esperávamos, pronto! Chegou ao Brasil! Tratava-se de um senhor, de 61 anos de idade, lá de São Paulo/SP, que havia viajado para a Itália e, no dia 26 de fevereiro de 2020, testou positivo para o novo coronavírus, sendo o 1° caso registrado no Brasil. Aí pensamos: “Bom, é preocupante, mas é apenas um caso, e lá na capital! Ufa!”

No entanto, o que temíamos aconteceu! Repentinamente, os primeiros casos começaram a surgir na nossa região e, em um “abrir e fechar de olhos”, nós passamos a conviver com a realidade da covid-19 em nossos próprios municípios. Desesperador, não é? Vidas sendo ceifadas, outras, lutando para sobreviver. Quantas incertezas, desespero, angústia, aflição, lágrimas! Quanto medo e ansiedade por não sabermos o que nos espera no futuro! Quantas coisas que jamais imaginávamos!

Comércio fechado, lojas fechando para, provavelmente, nunca mais se abrirem;  celebrações religiosas proibidas (e qualquer outro tipo de aglomeração também); máscara e álcool em gel passando a ser necessidade extrema, para a nossa segurança; tanta gente perdendo emprego, ou tendo os seus salários reduzidos; escolas e creches fechadas; famílias, profissionais, alunos, todo o mundo tendo que se reinventar! Sobre os que continuaram trabalhando? Estão tendo que conviver com o medo de serem contaminados, além de todas as outras angústias.

E o que podemos aprender com tudo isso?

Bom, dentre tantas outras coisas, estamos aprendendo, NA PRÁTICA, o que, de fato, é a tal da RESILIÊNCIA! Pois estamos tendo a oportunidade de desenvolvermos estruturas mentais que nos capacitam para, apesar dos pesares, seguirmos em frente, darmos a volta por cima, transpormos as muralhas, escalarmos as montanhas, encararmos os desafios de frente para que sejam vencidos, etc.

Estamos sendo preparados para auxiliarmos a próxima geração, e nada melhor para falar de um assunto do que tê-lo vivenciado “na pele”. Quem nunca levou um beliscão, só sabe falar “sobre” beliscão, mas não tem condições de falar “de” beliscão. Falar “sobre” é falar “do lado de fora”, enquanto que “falar de” é “falar do lado de dentro”, assim, só pode falar “de” alguma coisa quem já vivenciou aquilo, quem não, então só tem condições de falar “sobre”, isto é, apenas o teórico! Quem já vivenciou algo tem autoridade para falar “do” assunto, e é exatamente isto que está acontecendo conosco. Estamos criando “músculos psicológicos” para sermos capazes de ajudar a outras pessoas. No final, saberemos que somos mais fortes do que pensávamos, que podemos mais do que imaginávamos. Sairemos desta fase mais convictos de que:

Sim, é possível passarmos por situações adversas e sairmos vitoriosos do outro lado! Sim, é possível enfrentarmos os nossos medos e educá-los! Sim, é possível nos reinventarmos, quantas vezes forem necessárias! Sim, é possível derrubarmos os gigantes que nos afrontam todos os dias! Sim, é possível pegarmos os “limões” que a vida nos oferece e fazermos deles uma deliciosa limonada! Sim… É POSSÍVEL!

Portanto, cabeça erguida, maquiagem no rosto e cabelo arrumado, que daqui a pouco tudo isso terá passado e será apenas lembrança de uma fase, difícil? Sim! Mas também superada e de muito aprendizado!

Obs: para os que perderam algum familiar ou amigo(a), não só para a covid-19, mas de qualquer outra maneira, as minhas mais sinceras condolências.

Wesley Lutero M. da Silva

– Psicólogo Clínico com abordagem psicanalítica – CRP: 06/167771

– Foco em Saúde Emocional e Trabalho

– Bacharel em Psicologia

– Bacharel em Administração de Empresas

– Pós Graduando em Psicanálise

Fonte: Evidenciador

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